quinta-feira, 17 de novembro de 2011

O mito do corpo


   
    Estou sentada na pedra ainda, tirando algumas coisas da mochila para continuar a travessia. Pelo visto, vou ficar aqui um bom tempo. Assistindo uma coleção de DVDs sobre os ensinamentos de Joseph Campbell (achada por acaso na estante do meu tio), entendi que preciso dar uma boa analisada nos meus "mitos pessoais". No que venho acreditando? Através dessa análise, posso conhecer minhas crenças arraigadas e questionar se elas me levarão de fato onde quero chegar. Acho que, de plano, consigo vislumbrar uma que não está sendo útil: a busca do corpo perfeito. Preciso libertar-me do "mito do corpo".


O mito do corpo 

    O corpo, na sociedade contemporânea, é o novo totem. Se antes olhávamos através dele para encontrar a divinidade de cada um, hoje o encaramos diretamente para que, pela sua imagem, alcancemos o êxtase. As pessoas não buscam mais pautar suas vidas por uma série de mandamentos morais para atingir uma existência superior; elas pautam-na por mandamentos científicos que lhe tragam um corpo perfeito através do qual possam gozar de uma existência interessante.

    Nem todos conseguem adequar sua realidade orgânica a um corpo idealizado. A estes, resta a sensação de ter chegado à festa de gala da vida sem a vestimenta apropriada. Uns preferem não entrar, por vergonha. Outros usam de artifícios  para que sua roupa se pareça com uma de gala. Há ainda aqueles que, para não serem considerados inferiores, buscam camuflar a inadaptação com outros atrativos, como poder, dinheiro e conhecimento.

    Alguns chamam este fenômeno de ditadura do corpo. Eu, particularmente acho que o melhor termo seria mito. Não há uma força a nós externa que nos obriga a agir de determinado modo, independente daquilo que acreditamos; é mais uma voz dentro de cada um que nos leva a acreditar piamente que apenas a conquista da estética nos levará à plenitude do prazer. Lógico que a semente da crença vem de fora, da mídia, da necessidade de adequação, do outro. Mas seu significado e quanto ela nos afeta, de acordo com a experiência vivida por cada um,  é o que constrói ou não o mito.

Dhara Gasparini

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