sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Autenticidade ou repetição?


              

         Há quem diga que, na seara artística, tudo já foi dito, cantado e escrito - mas será mesmo? Se assim for, nossa criatividade não é mais do que a reedição de antigos pensamentos, tornando-se refém da velocidade lancinante dos tempos modernos e seu "boom" de inventividade e originalidade. 

     E se assim não for? Talvez então tenhamos que  assumir a responsabilidade pela  repetição. Tendemos a nos expressar da mesma forma que nossos antecessores, revisitando quase que inconscientemente nossas influências artísticas. Nada de errado, afinal, fazemos isso desde crianças: brincamos de imitar os adultos. É possível até que essa capacidade de imitação seja o fio invisível que une as pessoas, formando a fascinante teia da civilização.

       Repetir é mais fácil e seguro, ajuda a encontrar o outro e escapar da solidão. Mas não traz tanto prazer quanto criar. Nossa angústia existencial - a busca por um sentido na vida - provém do fato de que somos criadores e não estamos criando. Não a criação burocrática, pelo mero reconhecimento, mas aquela que deixa doente, que parece não caber dentro de nós. 

        É no limiar entre a dor e o prazer que se encontra a fonte de toda inspiração: a dor de separar-se, o prazer de viver uma existência autêntica. Apenas quem aceita a dualidade enxerga a unidade - é preciso separar-se para fundir-se.

                                                            Dhara Gasparini

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